O surgimento do selo postal e da filatelia: da reforma postal britânica até os precursores dos estudos filatélicos

Post número 1 
Publicado em 19/09/2017, editado pela última vez em 25/09/2020

Foto de capa: catálogos e materiais de consulta de diversas épocas.

A filatelia tem como marco inicial a data 6 de maio de 1840, data em que foi emitido o “one penny black” no Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda. Para analisarmos a origem do selo postal é necessário entender o contexto histórico em que ele surgiu.

O nascimento do selo postal

O Reino Unido tornou-se a principal potência mundial, o maior centro econômico, financeiro e industrial do globo durante o transcorrer do século XIX.

Desta forma não é difícil perceber que isso fez com que o volume de correspondência transportada pelos correios britânicos aumentasse exponencialmente. Porém, o serviço dos correios não estava sendo capaz de acompanhar este aumento, pois este serviço caracterizava-se por ser retrógrado e ineficiente.

No período imediatamente anterior à invenção do selo postal, o sistema dos correios no Reino Unido estava prestes a entrar em colapso, devido ao fato de que esse sistema possuía uma produtividade muito baixa, pois fornecia um serviço muito caro e facilmente fraudado pelos usuários.

Isso se deve principalmente ao fato de que quem pagava pelo serviço era o destinatário e não o remetente como é hoje. Desta forma, havia vários empecilhos para o sistema postal como o risco de os carteiros da época andando com os bolsos cheios de dinheiro das entregas, e principalmente pela recusa de grande parte dos destinatários em pagar pelo serviço.

Selos de diversos países em homenagem a Rowland Hill

Para burlar o sistema havia até um costume bem difundido na época, esse costume consistia em desenhar pequenos símbolos no sobrescrito das cartas, assim o destinatário ficava sabendo do conteúdo da carta sem ter de abri-la e consequentemente sem ter que pagá-la.

Assim, o serviço dos correios tinha que cobrar muito caro por cada correspondência que era paga, pois isso faria um contrapeso ao prejuízo das cartas que não eram pagas. A invenção do selo postal e a reforma postal britânica são atribuídas a Rowland Hill, sua ideia foi exposta pela primeira vez
em sua obra “Post Office Reform: Its Importance and Practicability”, apresentada em 1835.

Antes de continuar com a explanação sobre a criação do selo postal, acredito ser importante “abrir um parêntesis” para trazer uma definição clara do que consiste a definição de “selo postal”.

A principal definição encontrada na literatura filatélica é a que trata o selo postal como um comprovante de franqueamento postal. Vejo, entretanto, que este somente tem validade quando é usado para definir os primeiros selos emitidos como o Penny Black.

Isso ocorre porque os selos, com o passar do tempo, passaram a ser emitidos com outras finalidades diferentes daquela que foi pensada inicialmente, podemos citar como exemplo os selos de multa postal e os de sobretaxas para arrecadação de fundos (chamados também de semi-postais).

Algumas das emissões dos primeiros países que implantaram a novidade dos selos na época.

Estes tipos de selos não se enquadram nesta definição, pois os selos “semi-postais” são destinados à arrecadação de fundos que não têm relação com os custos de postagem, já os selos de multa postal possuem um significado diametralmente oposto daquela definição, pois seu uso deve-se exatamente
quando há a falta de franqueamento postal prévio.

Desta forma, a definição usada pela maioria dos autores torna-se incompleta, pois deixa de fora selos como esses citados como exemplo. Trago aqui uma definição nova e mais simples, o selo postal é em minha concepção um instrumento que traduz uma tarifa cobrada por um serviço prestado por uma entidade postal, sendo na maioria dos casos um comprovante de pré-franqueamento.

Para criar o selo postal, Rowland Hill baseou-se na utilização dos selos fiscais, que já eram usados no Reino Unido desde o “Stamp Act de 1694”, uma lei que passava exigir o uso dos selos fiscais para o recolhimento de taxas para o governo. Foi desta forma que foi concebida a ideia do selo postal, o selo postal como conhecemos foi, portanto uma derivação dos selos fiscais.

A invenção do selo postal como um comprovante de préfranqueamento possibilitou não somente um controle maior sobre a receita dos correios, mas também um grande barateamento do custo de envio das correspondências.

Devido ao fato de o selo postal ter sido criado em um país cujo status era o de maior potência da época, a ideia de utilizar os selos postais foi rapidamente incorporada por outros países do globo.

O aparecimento da filatelia

Com essa rápida expansão do número de selos emitidos, surgiram já durante o século XIX os primeiros filatelistas, porém os filatelistas precursores não contavam com publicações ou estudos para guiá-los nesta nova forma de colecionismo que surgia.

Surgiram durante a década de 1860 as primeiras publicações dedicadas à filatelia, podemos destacar a publicação dos primeiros catálogos de selos do mundo o "Timbres-Poste" e o "Catalogue des Timbres-Poste Créés dans les Divers Etats du Globe", ambos editados na França em 1861.

Com o passar do tempo surgiram diversos outros catálogos de selos, podemos destacar os catálogos especializados em catalogar todas as emissões mundiais como o Stanley Gibbons (Reino Unido), Michel (Alemanha), Yvert et Tellier (França) e Scott (Estados Unidos).


Imagens de edições antigas do catálogo Scott, um dos mais tradicionais do mundo.

A primeira publicação filatélica brasileira surgiu já em 1882 com o nome de “Brazil Philatelico”, vale ressaltar como a filatelia se desenvolveu rapidamente no Brasil, apesar do fato de o império ter emitido poucos selos até o ano desta publicação. A principal fonte de referência para os filatelistas no Brasil é o catálogo RHM, que é especializado nas emissões brasileiras.

Em suma, foi desta forma que se desenvolveu a filatelia mundial, uma forma de colecionismo que é hoje a mais difundida no mundo, tanto com relação ao número de adeptos quanto ao número de publicações destinadas a esse público.

E é sobre essa rica história, retratada brevemente aqui, que esta publicação se inspira e busca tornar mais clara e acessível para os filatelistas, tanto para os iniciantes quanto para os já avançados.


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