Adelaide - o melhor lugar para quem investiu 30 cents em 2016

Post número 38
Publicado em 14/11/2017, editado pela última vez em 25/10/2020

Foto de capa: correspondência registrada franqueada com um autômato da série.

Recentemente, o aumento das tarifas postais na Austrália introduziu mais efeitos além das já esperadas reclamações sobre a inflação. Este aumento produziu um caso muito interessante no meio filatélico, em que uma autoridade postal local teve de usar a criatividade para sanar a falta de selos para franquear as correspondências. 

Com este aumento, o valor de uma carta simples passou de 70 cents para um dólar australiano, o que levou a um aumento da demanda por selos de 30 cents que seriam usados juntamente com os de 70 cents (os selos do valor antigo de uma carta simples).

Para suprir esta necessidade, mandou-se confeccionar selos de 30 cents em Adelaide, capital do estado da Austrália Meridional (South Australia em inglês, quem é colecionador há muito tempo sabe que este estado teve selos próprios no passado, mas isso é assunto para outro momento...).



Foram produzidas 150 séries de 6 selos para serem usadas localmente de modo provisório, devido à baixa quantidade produzida, estes selos tornaram-se peças muito procuradas, alguns arriscam a dizer que serão as peças mais caras de toda a história filatélica da Austrália.

Porém, o que mais me chamou a atenção nestes “selos do momento” não foi o alto preço que eles alcançaram em tão pouco tempo, mas sim a sua verdadeira origem. Artigos que tratam desta série se espalharam na internet na mesma velocidade em que os seus preços aumentaram, mas poucos deles trazem informações corretas à respeito, eu pelo menos não encontrei nenhum.

Ao contrário do que se pode ler por aí, estes selos não podem ser chamados de locais, sobrestampados ou novas emissões. Estes selos foram simplesmente produzidos a partir de uma máquina de estampar selos com valores variáveis, aqui no Brasil nós os chamamos de selos etiquetas ou autômatos, lá fora eles são mais conhecidos por “ATMs”.


Selos como estes consistem em uma etiqueta sem valor facial previamente impressa em uma bobina, que ao ser colocada em uma máquina automática, tem o seu valor facial impresso com base nas necessidades postais de cada agência especificamente.

Foi exatamente isto que ocorreu neste caso, como os selos de 30 cents estavam em falta, eles decidiram usar as etiquetas disponíveis. As etiquetas usadas vêm sendo usadas desde 1994, na imagem nós vemos um outro conjunto, porém impresso com o valor facial de 45 cents e uma legenda
diferente.

Apesar de este ser um conjunto raro, não vejo nada de especial no seu aparecimento, pois eles foram produzidos da mesma forma que os demais (impressão na máquina automática) e com o mesmo
propósito (suprir necessidades postais com o seu valor variável).

Nós tivemos recentemente um caso parecido aqui no Brasil, em 2000 foram usados os autômatos
pomba azul nos valores de 0,27; 0,40; 0,45; 0,60 e 1,50 em Brasília (catalogados pelo RHM pelos
números SE-12 a SE-16), os quais também são raros pela produção e uso restritos que tiveram.

Sinceramente me apareceram algumas dúvidas sobre este episódio dos selos de Adelaide, as quais não sei as respostas, mas gostaria de compartilhar com os amigos para trazer alguns pontos
interessantes ao debate:

- 1ª: porque se mandou imprimir selos de 30 cents (para usar com os de 70c) e não de 1 dólar para
resolver logo o problema?

- 2ª: se os selos foram impressos para suprir as necessidades postais, porque a maioria dos selos a
venda na internet são novos?

- 3ª: será que apenas 150 séries de 6 selos são capazes de suprir as necessidades de uma capital de estado que possui mais de 1 milhão de habitantes mesmo em caráter provisório?

Em suma, podemos ver através deste artigo alguns pontos interessantes sobre os selos do momento. Será que eles continuarão sendo muito procurados no futuro ou isto é apenas uma moda passageira? Não importa, esta é mais uma das histórias interessantes que os selos nos contam.


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